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  • Foto do escritorBeth Venzon

A Moda no Tempo: Galliano, Marc Jacobs & Alaïa.


Em meio a  velocidade  que  vivemos  nosso  tempo presente, cada  dia se torna mais complexo fixar o olhar em algo e demorar-se para apreciar, entender, observar. 

A moda sempre efêmera e mais volátil do que nunca  anuncia novas tendências, novos caminhos e  novas modas em tempo recorde. Tudo se sobrepõe e o novo tem encanto breve demais. 

Tempos de inteligência artificial, tempo de múltiplas descobertas, interatividade, fluidez , tudo é incrível, encantador e desafiador. Nesse grande espaço de múltiplos acontecimentos e rápida renovação observo a moda em movimentos que merecem atenção principalmente com alguns criadores.  Em especial, meu foco aqui é salientar a importância de 03 nomes deste início de ano que surpreenderam de forma particular, trazendo à tona memórias, emoções, mas principalmente  tempo de dedicação ao desenvolver suas coleções.

Tempo escasso, tempo urgente, tempo criativo. 


Começo por John Galliano com a  sua coleção de Haute Couture para Margiela Artisanal. Sempre autoral, impactou o mundo da moda e deu um novo sentido às coleções, desde que apresentou a sua  primeira coleção intitulada Les Incroyables. Pesquisa histórica, atenção aos fatos do presente, minucioso  em todos os detalhes, escolheu a teatralidade como narrativa de desfiles espetaculares. À frente da Maison  Christian Dior  de 1997 , ano comemorativo dos 50 anos da marca, até 2011, sempre encantou e fez com que aguardássemos a cada temporada sua apresentação. Quem viveu esse tempo vai lembrar o que  escrevo aqui. Maximalista, em cenários fantásticos ou passarelas preparadas suas criações e apresentações deram um novo sentido à moda. Moda para sonhar, moda instigante  nas ousadias criativas que elevaram a marca a um patamar extraordinário .  Entre Luzes e sombras  sua genialidade se turva e por um tempo precisou  se tratar e rever. John Galliano sempre foi John  Galliano, essa mente criativa, intensa de quem sabe criar e apresentar esse universo criativo em que a emoção toma conta. Leva o espectador  para dentro da cena, envolvendo-o em cada detalhe mergulhando em sua narrativa. Foi o que aconteceu em seu último desfile, que levou um ano para ser  desenvolvido. A emoção tomou conta, o impacto foi imenso e  provocou desejos de muitos, que exclamavam: ele voltou!   



Fiz essa viagem  no tempo não por saudosismo, mas para situar momentos e significados  da moda  além dos algoritmos que hoje tem direcionado o sistema, e mostra a força criativa  tão importante e o espaço do criador. 


Sigo com Marc Jacobs que está celebrando seus 40 anos na moda desde a formatura na Parson de New York.  Ele impactou o  mundo  com sua coleção com inspiração Grunge em 1993 para a marca Perry Ellis e mudou os caminhos da moda futura. Foi demitido, mas não deixou de ser fiel ao seu estilo e seu olhar confirmando sua força criativa e presença importantíssima  no mundo da moda. Assinatura para Louis Vuitton por 16 anos até 2013.

Seu jeito de ser se estende para suas criações.  

Observador atento de seu tempo aproximou arte e moda de forma única e sempre olhou a história, não para voltar, mas para valorizar, homenagear e traduzir em estética, inspirações e informações que te fazem refletir e sonhar. Humor, irreverência e visão criativa necessárias. Numa coleção em desfile  fora do calendário e celebrativa, levou todos para um passeio em meio ao jogo de maxi dimensões. Bonecas de papel desfilaram as  criações, com  proporções e dimensões alteradas e incrivelmente encantadoras. Mais do que contexto, cenários e referências quero realçar aqui o momento.  

Quatro décadas de muitas inovações mostrando a força da moda em seu amplo significado. A moda que respira a profundidade autoral e como um texto em imagens, ilustra  seu fascínio. 



 «Através das inevitáveis lentes  ​​do tempo, o meu copo permanece cheio de admiração e desejo de reflexão». 


Fecho minha análise com a escolha de Pieter Mulier diretor criativo da Maison Alaïa,

A partir de um único fio de lã merino, reinventado, estudado e trabalhado inúmeras vezes surgem os tecidos da  sua coleção. O tempo para o desenvolvimento, o ponto de partida para uma coleção espetacular. “Tudo o que você vê vem de um único fio” explica o criativo.

Um desfile de Prêt- à Porter que aconteceu fora do calendário, em meio a semana de alta costura  com criações que poderiam muito bem participar desse espaço.

Muitos são os pontos fortes desta coleção de Pieter Mulier para a Maison Alaïa.

Definida como verão outono ou atemporal mantém seu minimalismo em linhas puras e preciosidade têxtil e do construção primorosa, a força de um  minimalismo poético em movimentos leves e linhas curvas que permeiam toda a coleção , apresentação e  cenário.  A linha curva como ideia de aproximação ,  como  uma roda   de amigos, acolhimento. E todos estão muito próximos das roupas que  desfilavam.

Simplicidade das formas, o essencial fortalecido, materiais e looks plenos de poesia. Como Pieter disse “porque não se trata apenas de roupas. É sobre a vida, é sobres estarmos juntos.”



Caminhos criativos diferentes, estilos distintos e autorais que merecem atenção em  narrativas intensas sobre a moda em suas diferentes formas de se apresentar,  plena de significados. Compreender o ontem e o hoje é cada vez mais relevante na observação dos movimentos neste início de 2024 em que o tempo de dedicação foi igualmente determinante.



Beijos, Beth.


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